Dona Chica do Pandeiro, com nome de batismo Apolinária das Virgens Oliveira, nasceu
no dia 10 de janeiro 1949, na comunidade da Matinha, distrito de Feira de
Santana como filha de lavradores, sendo a quarta filha de um total de 14
filhos, curiosamente 13 irmãs e um único irmão, o caçula. Chica trabalhou na
roça desde os 10 anos de idade, torrando farinha, capinando mandioca, plantando
feijão, entre outras coisas, para ajudar os pais. Conta sua história com
orgulho e ressalta: “nunca fui empregada em lugar nenhum,
nunca trabalhei pra ninguém, sempre pra mim!”. Apesar do trabalho duro da roça,
nunca se queixou de nada. Mantém seu jeito brincalhão desde o tempo de criança
no interior que, segundo ela “brinca de verdade”:
Brincava de boneca, fazia de espiga de
milho, fazia boneca de manaíba, fazia vestido, brincava, fazia casa de barro,
pegava o bolo de barro, fazia as casas, nas noites de reza também, cantava
roda! Na comunidade mesmo, tinha lavagem de São Roque, na igreja, quando era agosto,
aí, minha avó, fazia lavagem, arrumava um bocado de menina, pegava os lençol de
cama, os lençol de chitão, fazia as prega assim, fazia bainha, metia cordão,
fazia as anágua de goma, aí, foi brincar de lavagem de baiana, na igreja de São
Roque! E cantava de uma comunidade pra outra, sábado, domingo brincava, até a
missa. Brincava de índio, fazia as contas, as contas a gente fazia, cortava os
pedacinho da mamona, fava, aquela semente, pra fazer os colares. Aprendia tudo
assim, brincando, antigamente a professora cantava roda, fazia samba, samba lelé ta doente... e todo mundo
tinha que sambar, aquele aluno que não sambava, levava... fazia sambar a pulso!
Fui pra escola lá na Matinha, e a minha professora tá viva ainda! Fiz até o
segundo ano, quando entrei mesmo pra escola, tinha 12 anos!
A menina cresceu e se casou com Marcos Gonçalves de Souza, o
famoso Coleirinho da Bahia, com o qual teve cinco filhos. O caçula “Guda”,
Galdino Oliveira Souza é quem lidera o grupo Quixabeira da Matinha, do qual Dona Chica tornou-se pandeirista
após a morte de Coleirinho. Guda, atualmente, é também coordenador geral da
Associação dos Sambadores e Sambadeiras do Estado da Bahia. Dona Chica é uma
mulher ativa, alegre. Criou cinco filhos e sempre ajudou seu marido,Coleirinho
no terreiro de Umbanda, no samba de roda e todas as tradições culturais da
Matinha dos Pretos, território reconhecido como comunidade quilombola. Chica
conta que trabalhou em “olaria, fazendo
tijolo também, carregava tijolo, enfornava. Ia pra feira livre, carregando o peso
na cabeça, carregando as coisa para ir vender na Feira, andando que não tinha
carro, voltava da feira, caminhando de novo.” Com todo este trabalho, nunca
deixou de brincar e sambar, porque herdou este dom dos seus antepassados: “entrei
pra sambar com idade de 12 anos, junto com meu pai, que era sambador, cantador
de reis, corria leilão, fazia testamento de judas, cantava reis, fazia samba de
roda também.” Ela conta do ciclo das tradições populares, o reisado, o Santo
Antônio, São Roque até o Caruru de São Cosme que infelizmente está se acabando:“agora
que não tá fazendo mais, que todo mundo é evangélico, mas tem lugar que ainda
faz, mas agora, o povo tá devagar demais...” e destaca que na Matinha o São
João era muito festejado: “quadrilha e forró, faz a quadrilha, brinca no lugar,
em casa faz o encerramento, era outra coisa que Coleiro fazia: Sodade de São João, meio de julho,
naquele terreiro mesmo!”
Atualmente Dona Chica integra a equipe do projeto DA QUIXABA A QUIXABEIRA, como mestre e ministrante da oficina de samba de roda, a qual funciona, todas as sextas-feiras, na sede da Associação Cultural Coleirinho da Bahia, na Matinha, em Feira de Santana.
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